Por Marília DuarteObs: Para ler a crítica da primeira temporada, clique aqui. A cena final da primeira temporada de YOU nos deixou com um suspense quando Joe Goldberg (Penn Badgley) de olhos arregalados é confrontado pela ex-namorada Candace Stone (Amber Chylders), que ele achou que estava morta há um bom tempo (enterrada viva por ele). Foi o momento em que pensamos: “Acaba com ele, Candace!”. Joe então foge para a última cidade em que alguém o procuraria (e que ele odeia à primeira vista): Los Angeles. A cidade então se torna um personagem a mais nesta temporada, servindo como a perfeita ambientação para o plot principal e subplots que se desenrolam no decorrer dos 10 episódios. O primeiro local apresentado é o condomínio onde Joe vai morar num bairro sem aquele luxo que costumamos ver em obras ambientadas na cidade. Logo depois, conhecemos outro local que vai ser muito relevante no decorrer da narrativa: a loja de estilo meio hippie com produtos naturais e outras coisas onde Joe consegue um emprego na seção de livros e que tem o nome de Anavrin (ironicamente Nirvana escrito ao contrário). Com essa mudança de local, a cinematografia se torna um pouco diferente, com cenas mais amplas comparadas à primeira temporada, além de uma maior luminosidade justamente por ser Los Angeles. Os criadores da série, Sera Gamble e Greg Berlanti escolheram certo a cidade para essa nova trama, fazendo Joe se sentir como um peixe fora d'água. Para manter o disfarce em sua “nova vida”, obviamente ele muda sua identidade e passa a se chamar Will Bettelheim. Quando ele não está organizando os livros da Anavrin, ele está andando por Los Angeles, certificando-se de que a vizinhança não seja cúmplice de Candace. Um fato engraçado na série é que enfiar um boné de beisebol na cabeça é o equivalente a usar uma capa de invisibilidade. Uma das poucas coisas que não faz sentido, mas que não prejudica a narrativa como um todo. Então, conhecemos Love Quinn (Victoria Pedretti), que é propositalmente o oposto de Beck da primeira temporada. Love é uma personagem mais interessante que Beck e sem aquela ingenuidade presente na personagem de Elizabeth Lail. Love possui muito mais camadas que são desenvolvidas no decorrer dos episódios tornando-a uma personagem bem mais complexa. Na primeira conversa dela com Will, já conseguimos ver que a relação entre eles será bem diferente do que Joe teve com Beck. E a atuação de Victoria Pedretti está sensacional. A química em cena com Penn Badgley é um dos pontos mais fortes dessa temporada, tornando a relação de seus personagens mais assustadora e tóxica, sem nunca romantizar o sentimento doentio de Joe (ou melhor descrevendo, sua sociopatia e obsessão). O interessante da narrativa é o desenvolvimento de Joe/Will, que ao utilizar citações do clássico da literatura russa Crime e Castigo, aprofunda mais ainda na psique do personagem além de mostrar mais sobre a infância dele com a mãe através de flashbacks. Se na temporada anterior os flashbacks eram centrados em sua adolescência com o seu tutor, aqui a série procura cavar mais fundo o background do protagonista para entendermos de onde começou sua idealização feminina e sua noção de “proteção” e claro, para humanizar o personagem, afinal, toda história de vilão ou sociopata precisa de um background. Alguns paralelos com a primeira temporada são desenvolvidos na segunda. No lugar de Paco, o garoto em Nova York por quem Joe tinha uma relação de protetor e irmão mais velho, temos a adolescente e aspirante a cineasta Ellie Alves (Jenna Ortega), cuja irmã mais velha, Delilah (Carmela Zumbado), é uma jornalista investigativa de casos envolvendo pessoas famosas e é a síndica do condomínio onde Joe passa a morar. Esse é um subplot interessante e a atuação de Jenna é uma grata surpresa além de sua personagem ser bastante carismática representando a geração Z. Delilah também se torna uma personagem carismática e o subplot dela é claramente inspirado na campanha #MeToo (campanha que denuncia homens poderosos e famosos de Hollywood em casos de abuso sexual e estupro) uma vez que ela possui um passado traumático envolvendo o famoso comediante Henderson (Chris D’Elia). Outro paralelo encontra-se na formação de um trio central. Se na primeira temporada tinha Peach Sallinger (Shay Mitchell) como uma “barreira” entre Joe e Beck, nessa há a forte presença de Forty (James Scully), irmão gêmeo de Love, que luta contra seus vícios e possui um mistério que o deixou assim a vida inteira (sem contar nos pais terríveis dele e de Love). A dinâmica entre Joe/Will e Forty também é uma das melhores coisas dessa temporada e Penn também possui uma forte química em cena com James Scully. E quando Candace entra de vez em cena, a narrativa fica mais instigante para todos esses personagens (Ambyr Childers, mostrando ser também uma atriz super carismática). É notável o aumento do fator gore nessa temporada, com muito mais sangue e uma pitada de momentos mais surreais, especialmente num determinado episódio (um dos melhores da série). O único fator negativo da temporada foi o uso excessivo da narração em off, um artifício que funciona muito bem desde a primeira, mas que nessa poderia ter sido retirada em alguns momentos. As reviravoltas da história foram surpreendentes, com alguns poucos clichês, mas que no fim foram satisfatórias devido ao poder da narrativa envolvente dos novos personagens e, claro, da atuação sempre impecável de Penn e Victoria. As escolhas dos personagens convidam bastante a participação do público e não tem como o espectador ficar desatento ou com vontade de olhar no celular. Isso nos lembra que YOU (especialmente essa temporada) é essencialmente sobre a construção de personagens e não apenas sobre “romances” obsessivos. Para alguns, a série pode ser considerada uma espécie de guilty pleasure, mas sinceramente, pra mim ela tem muito mais qualidades que defeitos e é melhor que muito thriller sobre stalkers e sociopatas que são lançados tanto na tv como no cinema. E o gancho final deixa teorias que podem ou não se concretizarem na terceira temporada, já confirmada para o próximo ano e talvez num possível terceiro livro da autora Caroline Kepnes, que escreveu os dois primeiros adaptados até agora. Espero que mais uma boa história venha por aí. Trailer legendado: FICHA TÉCNICA:
Criadores da Série: Sera Gamble, Greg Berlanti Número de episódios: 10 Direção: Kevin Rodney Sullivan, Silver Tree, John Scott, DeMane Davis, Cherie Nowlan, Meera Menon, Shannon Kohli, Harry Jierjian Roteiro: Sera Gamble, Neil Reynolds, Michael Foly, Mairin Reed, Kara Corthron, Justin W. Lo, Kelli Breslin, Adria Lang, Amanda Johnson-Zetteström Elenco: Penn Badgley, Victoria Pedretti, Ambyr Childers, James Scully, Jenna Ortega, Carmela Zumbado, Charlie Barnett, Robin Lord Taylor, Marielle Scott, Melanie Field, Chris D'Elia, Danny Vasquez, Adwin Brown, Aidan Wallace, Magda Apanowicz, Saffron Burrows, John Stamos, Michael Reilly Burke, Olivia Ragan, Anton Starkman Produção: Adria Lang, Jennifer Lence, Sera Gamble, Greg Berlanti Trilha Sonora: Blake Neely Fotografia: Cort Fey, Seamus Tierney Montagem: Gaston Jaren Lopez, Rita K. Sanders, Felicia Mignon Livingston, Erin Wolf Design de produção: Hugh D. G. Moody Figurino: Samantha Schwartz, Kiersten Hargroder Ano: 2019 Emissora/Streaming: Netflix País: EUA
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