Por Marília DuarteEuphoria retorna em sua segunda temporada ainda mais inovadora, artística e intensa. Uma das principais séries de drama da HBO atualmente, ela está longe de ser um filme de terror, mas não se pode subestimar sua capacidade de sobrecarregar os sentidos e fazer com que todo mundo sinta a tensão à flor da pele ao assistir diversos momentos desse segundo ano da série. Escrita e dirigida por Sam Levinson (o showrunner da série), a segunda temporada contém uma fotografia ainda mais bonita, uma edição mais caoticamente inspirada e subtramas que desenvolvem bem (quase) todos os personagens. No primeiro episódio acompanhamos uma festa de Ano Novo e a partir do segundo, todos estão de volta às aulas, com suas vidas mais caóticas do que nunca. Rue (Zendaya) continua lutando contra o vício em drogas e é colocada no caminho de Laurie (Martha Kelly), uma traficante com o comportamento de uma mãe comum, mas com um ar de alguém extremamente perigosa. Como Rue sofre uma recaída, seu relacionamento com Jules (Hunter Schafer) é colocado em risco, o que é ainda mais exacerbado, pois as duas têm uma dinâmica com um novo colega chamado Elliot (Dominic Fike) levando a um complicado triângulo amoroso. Enquanto isso, Cassie (Sydney Sweeney) começa um relacionamento secreto com Nate (Jacob Elordi), ex-namorado de sua melhor amiga Maddy (Alexa Demie), criando outro triângulo amoroso que cresce a um ponto de ebulição. Fezco (Angus Cloud) lida com repercussões trágicas quando seu irmão mais novo Ashtray (Javon Walton) comete um assassinato em seu nome. E Lexi (Maude Apatow) cria uma peça escolar semi-autobiográfica que é indutora de vários tumultos e essencial para desenvolver sentimentos que antes estavam latentes em todos os envolvidos na história. Se acompanhar todos esses tópicos da trama, cada episódio faz um bom trabalho em fluir seus personagens. No entanto, isso não significa que o roteiro de Levinson deixe algumas lacunas e esqueça de desenvolver uma personagem querida. No final da primeira temporada, muitos fãs ficaram empolgados ao ver Kat (Barbie Ferreira) eventualmente se juntar ao seu doce colega de classe Ethan (Austin Abrams), após um ótimo desenvolvimento da personagem durante o primeiro ano da série. Infelizmente nessa segunda temporada, a história de Kat fica em segundo plano e há apenas um momento marcante da personagem. Seu namorado, Ethan, aparece muito pouco, com exceção, nos dois últimos episódios, onde ele brilha em cena atuando na peça escrita por Lexi. Apesar do "apagamento" de Kat na série, Levinson traz um grande destaque para outros dois personagens que na primeira temporada não tinham muito tempo de tela e agora se tornaram os dois mais amados pelo público. Em particular, Fezco e Lexi têm mais tempo de tela investigando suas origens e personalidades. Suas tramas e interações são orgânicas e muito bem construídas e a química entre Angus Cloud e Maude Apatow é maravilhosa, tornando seus personagens extremamente fofos e shipáveis. A cena deles assistindo o clássico Conta Comigo e cantando Stand by Me é um dos momentos mais lindos da série. Através de flashbacks, descobrimos nesta temporada que Fezco foi trazido para a vida no tráfico de drogas por sua avó ainda jovem e exploramos por que e como Lexi se sentiu como uma espectadora passiva em sua vida, especialmente em comparação com sua irmã Cassie. Embora opostos completos no que diz respeito à experiência vivida, ambos os personagens possuem um conforto e compreensão entre eles, se tornando para nós, o público, um bote salva-vidas em meio ao caos que os outros personagens se encontram. Euphoria cria episódios surreais e fragmentados nessa segunda temporada. Essa qualidade onírica é algo positivo porque os episódios são extremamente criativos. Por exemplo, em um episódio, Rue imagina uma série de imagens idealizadas de Jules e sua história de amor. As fantasias de Rue são expressas através dela e Jules reencenando cenas de filmes como Ghost, Titanic e O Segredo de Brokeback Mountain e pinturas como “O Nascimento de Vênus”, de Botticelli. Em outro momento, vemos o rosto manchado de lágrimas de Cassie refletido em um espelho cercado por lindas flores. Assim como na primeira temporada, Levinson e o diretor de fotografia, Marcell Rév, criaram imagens evocativas que amplificam o clima de uma cena e mostram como ela é bem construída. O visual da série combinado com a seleção de trilhas sonoras em cada episódio criam um show que está constantemente e efetivamente estimulando seus olhos e ouvidos de forma hipnotizante. Na primeira temporada a trilha original criada por Labrinth já era algo impactante de tão linda e nessa segunda temporada, continua tão incrível quanto antes. Além de músicas muito bem escolhidas em cada episódio de bandas e artistas incríveis como INXS, Depeche Mode, Orville Peck, Judy Garland, Gerry Rafferty, Bonnie Tyler e tantos outros. O episódio mais comumente estruturado é “Stand Still Like the Hummingbird”, que mostra o colapso de Rue, sua fuga de sua família e as consequências perigosas. A combinação da natureza simples do episódio e a atuação crua de Zendaya é fascinante, mas dolorosa de assistir. As cenas em que ela contracena com Nika King e Storm Reid, que interpretam Leslie e Gia (mãe e irmã de Rue) são intensas, tristes e emocionantes. Um dos destaques nessa temporada é mostrar que não é apenas a pessoa viciada que sofre, mas sua família também. No final da temporada, Rue vê valor em si mesma e prospera em ser uma pessoa melhor. Levinson mostra a reabilitação de Rue apagando a fronteira entre “realidade” e ficção usando a peça de Lexi. Rue reconstrói suas amizades passadas e se torna parte de sua família novamente. Pela primeira vez, Rue tem esperança para o futuro. A trama de Cassie também é bem desenvolvida, mostrando um outro tipo de vício: o de querer ser amada a qualquer custo. Sua devoção repentina a Nate não faz ela enxergar o quanto essa nova relação é tóxica e abusiva que a fez perder uma grande amizade com Maddy. E a atuação de Sydney Sweeney está incrível em todos os sentidos, mostrando o quanto Cassie está quebrada por dentro e desesperada por um "amor" idealizado. Ao contrário de Cassie, vemos Maddy aos poucos, se desprender do sentimento que ela tinha por Nate e se tornar mais empoderada consigo mesma, mesmo com suas vulnerabilidades que ainda são marcas do relacionamento abusivo que ela sofria. Alexa Demie entrega uma performance com mais nuances para Maddy nessa segunda temporada. Outra subtrama que teve um certo destaque é o de Cal (Eric Dane), pai de Nate. Descobrimos seu passado e sua complexidade que o transformou numa pessoa detestável, mas também há espaço para mostrar ele jogando sua vida padrão e de aparências para o alto e enfim, sair do armário. A atuação de Eric Dane é simplesmente incrível. Um receio que tenho é que Levinson queira criar um arco de redenção para o personagem futuramente. O mesmo vale para seu filho Nate. Ambos são pessoas totalmente sem escrúpulos, egocêntricos e não merecem nenhuma redenção na próxima temporada. Uma das melhores coisas desenvolvidas na narrativa dessa temporada é a metalinguagem, muito bem colocada através da peça da Lexi, chamada Our Life. No decorrer dos episódios, assistimos as ideias de Lexi florescerem e nos dois últimos, ganharem vida no palco. Lexi é talvez a personagem que muita gente consegue se identificar facilmente (eu inclusive me identifico muito com ela). Quem foi tímida, nerd e observadora durante a adolescência, facilmente se vê em Lexi e a atuação de Maude Apatow é maravilhosa. Ela, que além de ser uma das melhores personagens, foi a responsável em criar os conflitos finais da temporada através da obra de arte que foi sua peça. E uma cena específica entre ela e Rue foi um dos momentos mais bonitos e emocionantes escrito por Sam Levinson. A trama de Fezco no final da temporada também tem seu intenso e (triste) destaque. Na tentativa de superar seus esforços anteriores, Levinson, a equipe e o elenco de alguma forma conseguiram criar uma temporada de Euphoria com visões, sons e performances ainda mais impressionantes que viram sua cabeça e te deixam intrigados pelo futuro dos personagens. Apesar de algumas falhas no roteiro, nunca deixa de chamar sua atenção com uma compreensão hipnótica que te deixa preso para a próxima temporada. Trailer legendado: FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama Número de episódios: 8 Criador da série: Sam Levinson Direção: Sam Levinson Elenco: Zendaya, Hunter Schafer, Maude Apatow, Angus Cloud, Sydney Sweeney, Alexa Demie, Jacob Elordi, Barbie Ferreira, Dominic Fike, Austin Abrams, Eric Dane, Storm Reid, Nika King. Colman Domingo, Javon Walton, Chloe Cherry, Martha Kelly, Alanna Ubach, Paula Marshall, Minka Kelly, Sophia Rose Wilson Produção: Harison Kreiss, Sam Levinson, Kenneth Yu, Ashley Levinson Fotografia: Marcell Rév Trilha Sonora: Labrinth Design de Produção: Jason Baldwin Stewart Figurino: Heidi Bivens Maquiagem: Doniella Davy País: EUA Ano: 2022
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March 2022
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