Por Marília DuarteObs: O texto não contém spoilers da segunda temporada. Provavelmente, a fanbase de The OA é mais quieta quando se trata em soltar spoilers da nova temporada. Depois de uma longa espera pela segunda parte da história de Prairie Johnson, a Netflix lançou em 22/03 os novos oito episódios da série e felizmente, não se viu muita gente estragando a experiência daqueles que ainda não assistiram, mesmo com uma trama tão insana e transcendental e um final impactante. Desde a primeira temporada, a série é discutida pelos fãs através de inúmeras teorias e essa segunda só aumentou o nível de novas teorias que podem vir a serem concretizadas ou não numa possível terceira temporada. The OA não é qualquer série de tv nem se parece com qualquer filme que eu já assisti. É uma coisa própria - um experimento audiovisual estranho e maravilhoso que usa a linguagem cinematográfica de uma maneira muito específica. A direção se une à narrativa de forma muito precisa e a segunda temporada elevou mais ainda essa característica. A mistura de elementos de ficção-científica, fantasia e até toques de terror pode lembrar talvez algo que David Lynch fez em Twin Peaks. Algumas cenas, especialmente aquelas que mostram espelhos, possuem uma vibe lynchiana. Mas o ponto é que Brit Marling (protagonista e co-criadora da série) e Zal Batmanglij possuem sua própria linguagem na hora de contar uma história, utilizando elementos da psicologia e da filosofia. Podemos imaginar os dois escrevendo livros ou compondo músicas para transmitir suas complexas idéias existenciais. Logo no primeiro episódio somos apresentados a um novo personagem, o detetive particular Karim Washington (interpretado por Kingsley Ben-Adir), que através de um sonho dele, imaginamos que em uma hora seu caminho ia cruzar com de Prairie. Falando em sonhos, estes são pontos fundamentais na nova trama da série. Além de Karim, conhecemos outros personagens enigmáticos que aparecem de vez em quando, como é o caso da nerd/hipster interpretada por Zendaya e a cientista interpretada por Liz Carr. Mas o maior mistério está na nossa protagonista, OA/Prairie/Nina. A passagem de uma dimensão para outra e a dualidade Nina/Prairie carrega todo o mistério das possíveis chaves que Nina Azarova carrega para decifrar o emaranhado de conspirações que envolvem o Dr. Hap/Percy (Jason Isaacs) e uma empresa de tecnologia comandada pelo misterioso Pierre Ruskin (Vincent Kartheiser) em São Francisco. Entretanto, um dos pontos mais envolventes da nova temporada é acompanhar os garotos e a professora BBA (Phyllis Smith), que desde a temporada passada ganharam nossos corações. Enquanto a trama de São Francisco é mais frenética (envolvendo a dimensão em que além de Nina, se encontram Homer, Rachel, Scott e Renata) , a trama dos garotos em Michigan é mais intimista e se torna uma espécie de road movie emocionante. Todo o elenco jovem é maravilhoso e assim como no fim da primeira temporada, nessa eles também protagonizam outra cena emocionante de tirar o fôlego no último episódio. Essa é uma série que gera dois tipos de expectadores, aqueles que tentam comprar a narrativa que está sendo contada, mas que o ceticismo fala mais alto e aqueles que se entregam completamente na jornada da OA, se tornando uma espécie de Steve (Patrick Gibson), que fica obcecado pela história dela e se vê emocionalmente envolvido por ela. Brit e Zal construíram uma série muito especial, que tem suas bizarrices, mas que entrelaça elementos tão únicos e místicos como a ligação entre a mãe natureza e a OA. Essa Parte II parece fazer a sugestão de que toda a humanidade é intrinsecamente divina. É um pensamento nobre, puro demais para o mundo em que infelizmente vivemos. Brit e Zal adotam uma abordagem bastante cerebral em relação à espiritualidade, combinando elementos da ficção científica com a filosofia oriental. Essa segunda parte de The OA serve como um coquetel inebriante de mistério noir com ficção científica, enquanto a OA desperta para se encontrar na dimensão onde ela ainda é Nina Azarova e não Prairie Johnson. A narrativa se dobra sobre os aspectos inter-dimensionais da história, mas não como em uma ficção-científica comum. As dimensões alternativas em The OA são conceitualmente mais pesadas e visualmente distintas, mas como tudo nessa série, elas estão enraizadas em muitas teorias da Psicologia e até mesmo em conflitos existenciais. E se tomarmos decisões diferentes em nossas vidas? E se não tivéssemos deixado aquele namorado ou namorada do passado? E se tivéssemos escolhido aquela profissão que realmente queríamos? Estas são idéias parecidas com as quais Brit Marling desenvolveu desde sua estréia como roteirista, no filme indie Another Earth. A ideia de que existe, em algum lugar no universo, outra versão sua - talvez mais feliz, talvez mais triste, talvez a mesma coisa - é algo que a atrai (e atrai todos nós também – quem nunca fantasiou uma versão sua numa realidade alternativa vivendo num mundo mais justo e tendo uma vida mais feliz?!). The OA é uma obra-prima da tv, uma produção ambiciosa no sentido de quebrar paradigmas de como se faz televisão e que possui uma identidade muito própria. A Netflix acertou em dar liberdade criativa para os criadores da série, afinal, o serviço de streaming tem desapontado um pouco em seu catálogo de produções originais. São poucas as séries e filmes originais que realmente têm algo a dizer (saudades da minha amada Sense8 💖). Depois de um final mais metalinguístico, novas teorias surgem para uma possível terceira temporada. Só espero que não demore muito para que a diva Brit Marling mais uma vez externe sua genialidade narrativa e nos encante com a continuação da jornada de Nina/Prairie. Trailer legendado: FICHA TÉCNICA: Gênero: Drama, Fantasia, Mistério Número de episódios: 8 Direção: Zal Batmanglij, Anna Rose Holmer, Andrew Haigh Roteiro: Brit Marling, Zal Batmanglij, Dominic Orlando, Claire Kiechel, Henry Bean, Damien Ober, Nicki Paluga Elenco: Brit Marling, Jason Isaacs, Emory Cohen, Kingsley Ben-Adir, Patrick Gibson, Phyllis Smith, Ian Alexander, Brandon Perea, Brendan Meyer, Sharon Van Etten, Paz Vega, Will Brill, Chloe Levine, Riz Ahmed, Zendaya, Liz Carr, Vincent Kartheiser, Irène Jacob, Alice Krige, Scott Wilson, Bria Vinaite, Zoe Chao, Ego Mikitas, Zoey Todorovsky, Kathleen Wilhoite, Théodore Pellerin, Hettienne Park, Nikolai Nikolaeff Produção: Aida Rodgers Fotografia: Steven Meizler, Magnus Nordenhof Jønck Trilha sonora: Danny Bensi, Saunder Jurriaans, Keegan DeWitt, Aaron M. Olson, John Rossiter Edição: Blake Holland, Alex O'Flinn Figurino: Meghan Kasperlik Design de produção: John P. Goldsmith Direção de arte: Chris Farmer País: EUA Ano: 2019
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