por Camila KaihatsuEntrevista com Natasja Haia A escritora e poeta Natasja Haia falou sobre suas publicações, sua participação no projeto literário Clube dos Cinco e as dificuldades enfrentadas pelos escritores independentes. O que lhe motivou a se tornar escritora? Quais autores lhe influenciaram? Quais os seus livros favoritos?
R: A primeira pergunta é, digamos que, difícil de responder. Não sabemos ao certo o que nos faz rabiscar as primeiras palavras literárias em um papel avulso qualquer, trata-se de uma necessidade misteriosa que sigo tentando desvendar o porquê. Machado de Assis foi um dos primeiros autores com que tive contato, sua narrativa póstuma me chamou muita atenção, era algo curioso e inovador, porém é a Clarice Lispector a escritora que mais me fascina e instiga com sua quase indecifrável escrita introspectiva, como ela mesma citou “é preciso sentir, ou toca ou não toca”. Meus livros favoritos são Os Miseráveis e um Sopro de Vida. Você é coautora do livro “Retalhos: Almas em Versos”, conte como foi essa experiência. R: Foi e é algo eternamente marcante. Eu e a Camila Kaihatsu nos conhecemos no lançamento da nossa primeira participação literária, logo em seguida surgiu uma amizade e a ideia de escrevermos um livro de poesia juntas. O processo de criação foi mágico, após isso conseguimos enfrentar todos os desafios para que parte de nós, nossas palavras, pudessem se tornar um livro físico, ser lançado na Bienal de São Paulo e chegar a grandes livrarias. Inacreditável mas real. Você é poeta, mas agora também escreve prosa. Como foi a transição do verso para prosa? R: Desafiadora! Costumo comparar a um parto, algo que já está dentro de nós, em processo de formação, misterioso, algumas vezes penoso, e no fim simplesmente nasce nos deixando maravilhados. Consegui! E sua experiência com o gênero terror? R: Eu sempre gostei muito do gênero, mas confesso que escrevê-lo me deixou um pouco receosa, temerosa, o oculto não é algo que eu goste de mexer. Mas adoro desafios e é um processo que tem me ensinado muito, inclusive a como pisar em algo arriscado totalmente protegida. No fim conhecendo os demônios eles perdem o poder de nos dominar. É algo muito interessante. Em sua opinião, quais são os maiores desafios do autor independente? R: Muitos, principalmente no Brasil, onde a literatura consumida, digo consumida porque é de fato transformada em um mercado, é em sua maior parte estrangeira. Os autores brasileiros que conseguem publicar quase sempre são seus próprios patrocinadores e não há retorno. É preciso escrever por amor para continuar. Mas o mais difícil é sabermos que se esse processo fosse diferente nossas palavras alcançariam muito mais leitores, e quem sabe conseguiríamos mudar alguma coisa, sermos compreendidos. Quais são os seus planos para 2020? R: Continuar escrevendo e quem sabe ver algumas das minhas palavras impressas. É o que espero. Você também é membro do Clube dos Cinco. Fale um pouco da sua experiência nesse projeto. R: Tem sido maravilhoso. É muito desafiador escrever um conto curto, é preciso despertar a curiosidade do leitor nas primeiras linhas, lhes contar uma história e já em seguida surpreende-los com um final inesperado. Tem sido uma faculdade, estou adorando. Se pudesse indicar apenas um livro para as pessoas lerem, qual seria? E por quê? R: Um sopro de vida da Clarice Lispector, porque é mais que sobre a criação literária, acredito ser sobre de onde viemos e para onde vamos, ali é uma alma que fala, todos os nossos questionamentos dilacerados e expostos ao leitor. A necessidade de um ser superior e a súplica por um sentido maior. Foram suas últimas palavras.
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April 2020
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