por Camila KaihatsuEntrevista com Júlia Zanelatto Nascida e criada em Paulínia, interior de São Paulo, Júlia Zanelatto sempre foi apaixonada por literatura e audiovisual. Começou a escrever aos treze anos e a divulgar suas histórias em formato de fanfics aos quinze. Publicou seu primeiro livro, ‘Os Ratos do Novo Mundo’, aos dezoito anos e hoje cursa faculdade de Rádio, TV e Internet, na qual teve oportunidade de roteirizar e dirigir trabalhos como o curta metragem interativo disponível no YouTube, Conduta Assassina, vencedor do Prêmio Jaguatirica. Sempre começo a entrevista com autores com essa pergunta, que talvez seja a mais batida de todas, mas considero muito importante fazê-la a um escritor. O que lhe motivou a se tornar escritor? Quais autores lhe influenciaram? Quais os seus livros favoritos? R: Sempre tive uma necessidade dentro de mim de criar histórias. Quando era mais jovem, sempre tive dificuldade de me encaixar e gostar de mim mesma como eu era, então acabei me abrigando em livros e filmes como uma válvula de escape. Com isso, não demorou muito para que eu começasse a criar personagens que eu queria ser e histórias que eu queria viver. Com o tempo, conforme eu me entendia como pessoa, comecei a escrever simplesmente porque haviam muitos mundos, histórias e pessoas que nasciam dentro de mim e precisavam sair. Escrever acabou deixando de ser uma válvula de escape e passou a ser um meio de fazer uma das coisas que eu mais amo: contar histórias. Além de autores, sinto que também sou muito influenciada por cineastas. Alguns que posso citar são Aldous Huxley, Chuck Palahniuk, George Orwell e George R. Martin. Já falando de cineastas, que também são grande influências sobre mim, posso citar Desiree Akhavan, Fede Alvarez e Quentin Tarantino. Parece uma grande mistura de autores e cineastas que não tem nada a ver entre si, mas é difícil me manter em um gênero específico. Já que também escrevo roteiros, as vezes acabo tendo que expandir meus horizontes e referencias um pouco mais do que faço ao escrever romances e contos. Meus livros favoritos são sem duvida ‘O Mau Exemplo de Cameron Post’, ‘Eu, Christiane F.’, ‘O Exorcista’ e ‘Admirável Mundo Novo’. Em 2014, você lançou pelo selo Talentos da Literatura Brasileira o livro “Os Ratos do Novo Mundo”. Como essa obra surgiu? Recebeu influência de outras distopias? R: Os Ratos do Novo Mundo demorou três anos para ser concebido de fato. Em 2011, durante uma aula de história, li um texto falando sobre como chamar a Idade Média de Idade das Trevas não fazia muito sentido, tendo em vista que a produção cultural continuava viva. Então pensei como seria uma Idade das Trevas de fato, um mundo sem produção artística, sem diferenças, sem diversidade. No mesmo dia escrevi o prólogo de Os Ratos do Novo Mundo e acabei esquecendo-o na gaveta por algum tempo. Foi só tem 2013, depois de ler ‘Admirável Mundo Novo’ do Aldous Huxley que a ideia veio à tona. Encontrei o prólogo esquecido e comecei a escrever sem parar. Em um ano Os Ratos do Novo Mundo havia nascido. Além de ‘Admirável Mundo Novo’, outras duas distopias que tiveram grande influência no meu processo de escrita foram a trilogia ‘Jogos Vorazes’ (Suzanna Collins) e ‘1984’ (George Orwell). Ainda sobre “Os Ratos do Novo Mundo”, poderia contar aos leitores um pouco sobre a trama desse livro? R: Os Ratos do Novo Mundo traz um mundo diferente do que conhecemos. Controlado por um governo extremamente autoritário, as pessoas foram completamento dobradas perante a vontade de seu líder. Todos usam as mesmas cores de roupas, agem da mesma forma, não existe arte nem diversidade, além de reconhecerem seu líder como um salvador, apesar deste, na verdade, oprimir seu povo a ponto de internar todos aqueles que não seguem o padrão imposto em centros correcionais conhecidos como Campos de Concentração. Dentro desse universo acompanhamos a jornada de Mia, uma garota que, desde criança, teve dificuldades para seguir as imposições desse novo mundo. Após fugir de uma de suas internações nos Campos, Mia acaba se vendo diante de um dilema: voltar para casa e continuar o cansativo ciclo que é sua vida ou tentar lutar contra tudo e todos em busca de sua liberdade. Há gêneros literários que você ainda pretende explorar? Quais? R: Sim, com certeza! Escrevendo roteiros já me aventurei por diversos gêneros: suspense, drama, romance, comédia, terror e até produtos publicitários, mas na literatura ainda não tive a oportunidade. Tenho muita vontade de explorar mais os gêneros de terror e fantasia. Em sua opinião, quais são os principais desafios para novos escritores? R: Acredito que é conseguir destaque dentro de um mercado que é dominado por traduções de títulos internacionais. Com a internet, as formas de publicar um livro de forma independente aumentaram muito. Sites como Wattpad permitem a divulgação de obras e plataformas como a Amazon permitem que você lance ebooks sem nenhuma taxa. Acredito que atualmente o problema não é tanto conseguir ser publicado, mas sim divulgar seu trabalho de uma forma eficiente a posto de conseguir aparecer em meio a tantos outros autores, nacionais e internacionais, profissionais e iniciantes. Publicar um livro não é sinônimo de sucesso. É só o primeiro passo dentro de uma batalha diária pra se destacar e continuar produzindo histórias que cativem um público que é bombardeado por narrativas diariamente, seja através de livros ou produtos audiovisuais. Já tem planos para um novo livro? Poderia contar sobre ele aos leitores do CultEcléticos? R: Sim! Estou escrevendo já faz algum tempo. Deixo-o de lado e volto a escrever várias vezes, entre trancos e barrancos, mas é uma história que tem me motivado muito e estou super ansiosa para compartilhar ela com todo mundo. O título é ‘Dama Flamejante’ e trata-se de uma fantasia que se passa majoritariamente dentro de um navio pirata que viaja pelo mundo fictício de Callisto atrás de saques e riquezas, mas o Dama é um navio diferente. Sua tripulação tem uma motivação diferente da dos demais navios piratas. Eles não buscam riquezas por poder ou ganância, mas para tentar manter suas famílias em tempos nos quais a miséria tomou conta de todas as nações de Callisto após Marlbrand, um ganancioso militar de Quebra Caravela, destronar o então imperador, Flynn Zalika, e tomar o poder para si. É diferente de tudo que já escrevi e vem sendo um ótimo desafio, mas três coisas que poderemos ver em ‘Dama Flamejante’ que também vimos em ‘Os Ratos do Novo Mundo’ são muita ação, aventura e personagens femininas fortes e complexas. Quais dicas você daria para quem pretende publicar um livro? R: Não se prenda a grandes editoras ou a necessidade de publicar uma obra física. Tente divulgar seu trabalho e mostrar para o mundo, mesmo que seja através de um site. Conquiste fãs e pessoas que pagariam para ler mais do seu trabalho. Um amigo que conheci quando publiquei ‘Os Ratos do Novo Mundo’, Bruno Cassiano, acabou de lançar um livro chamado ‘Lascívia’, mas foi uma longa jornada. Conseguiu publicar uma versão física graças aos fãs que conquistou através das histórias que postava no Wattpad. Podemos ir até mais longe. ’50 tons de Cinza’ nasceu como uma fanfic de ‘Crepúsculo’. O publico que a fanfic cativou foi tão grande que fez com que se tornasse uma trilogia de livros que foi adaptada para o cinema. Exemplos a parte, o que quero dizer é que as vezes, mais importante do que publicar um livro é conquistar as pessoas com seu trabalho. Seu público é tudo. Pense nisso. Quais são seus planos para 2019? R: Em 2019 quero continuar escrevendo roteiros e avançar com ‘Dama Flamejante’. Não sei se conseguirei terminar o livro ainda esse ano, mas quero tentar escrever com mais continuidade do que em 2018. Além disso também quero continuar não só produzindo vídeos para meu canal no YouTube (Julia Zanelatto), como também tentar produzir um curta metragem ou websérie. Também tenho a ambição de fazer parceria com algum artista e roteirizar uma história em quadrinhos, mas acho que isso vai ficar pra 2020. Em resumo, enquanto eu estiver produzindo eu estarei feliz. Se pudesse indicar apenas um livro para as pessoas lerem, qual seria? E por quê? R: Os Ratos do Novo Mundo! Brincadeiras a parte, acredito que indicaria Laranja Mecânica. Acredito que seja uma história incrível sobre como quem somos e o que acreditamos é na verdade uma construção social, de nossas vivencias e experiencias dentro de uma sociedade caótica que tenta a todo custo nos moldar a seus interesses. Conduta Assassina Os Ratos do Novo Mundo Sinopse: Após uma revolta popular de proporções mundiais, conhecida como Tempos de Caos e Sangue, que deixou milhões de mortos, o sistema de governo é substituído por um modelo ditatorial. Controlador e eficiente ao extremo, esse sistema conseguiu manter nações alienadas, uma geração após a outra, através da censura cultural e de centros de correção comportamental. A partir da perspectiva de Mia, Os Ratos do Novo Mundo traz uma metáfora da sociedade contemporânea de uma forma simples e bem estruturada, com diálogos envolventes, ação, reflexões psicológicas e um retrato do que a repressão intensa pode causar a uma pessoa. Aceitar e seguir o sistema ou lutar pela sonhada liberdade - de qual lado você ficaria? Para adquirir o livro, clique aqui e entre em contato com a autora no Facebook.
0 Comments
Leave a Reply. |
Archives
April 2020
Categories |